Surge a Diocese de Sorocaba e Dom Aguirre é o primeiro bispo

Alguns meses se passaram da célebre reunião de 13 de janeiro, com a presença de Dom Duarte Leopoldo e Silva, e a 4 de julho de 1924, o papa Pio XI já assinava as bulas criando as dioceses de Santos e Sorocaba, e designando o então vigário da Paróquia de Bragança Paulista, monsenhor José Carlos de Aguirre, como primeiro bispo.

Naquele tempo, porém, de difíceis meios de comunicação, as comunicações pontifícias também demoravam a chegar a seu destino, também quanto à criação da Diocese, visto que no dia seguinte, 5 de julho, eclodiria a Revolução de 1924 em São Paulo. Comandada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, a revolta ocupou a cidade por 23 dias, forçando inclusive, o presidente do Estado, Dr. Carlos de Campos, a fugir para o interior depois de ter sido bombardeado o Palácio dos Campos Elíseos, sede do Governo Paulista na época.

De modo que a Sorocaba a confirmação da criação da Diocese só chegaria no final de agosto, início de setembro. Cônego José Carlos de Aguirre seria informado de sua nomeação pelo Papa Pio XI como primeiro bispo diocesano de Sorocaba um pouco antes, em meados de agosto igualmente, quando o arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva o chama a São Paulo.

Dom José Carlos de Aguirre

A 8 de dezembro de 1924, na Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, monsenhor José Carlos de Aguirre, era sagrado Bispo da Igreja, em cerimônia realizada pela manhã na Matriz de Bragança Paulista, inclusive com a presença de seus futuros diocesanos de Sorocaba. Eram cerca de 60 pessoas que embarcaram na noite anterior na Estação Ferroviária local, em carros especiais cedidos pela Estrada de Ferro Sorocabana. Levavam como presentes de Sorocaba a Dom Aguirre um báculo pastoral e três mitras, confeccionadas pela já existente Obra dos Tabernáculos.

Dom José Carlos de Aguirre teve como sagrante o próprio arcebispo metropolitano de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, e como co-sagrantes os bispos de São Carlos de Pinhal/SP, Dom José Marcondes Homem de Mello, e de Campinas/SP, Dom Francisco de Campos Barreto.

Na tarde de 31 de dezembro, por volta das 17 horas, Dom Aguirre chegava à Estação Ferroviária local. Partira da Capital às 14h, sendo aqui recebido entusiasticamente pela multidão que tomava por completo o pátio da Estação e arredores. Ao desembarcar, recebe a saudação de boas-vindas proferida pelo juiz de Direito da Comarca, Dr. José Thiago de Silva, e, após agradecer emocionado em poucas palavras a ‘esplendorosa’ recepção, dá ali mesmo pela primeira vez sua bênção episcopal. Depois seguiu a pé, acompanhado da multidão, até a Residência Episcopal, no início da rua Cel. Benedito Pires. Às 19 horas, com a Catedral igualmente tomada e toda iluminada, aconteceu a cerimônia canônica de instalação da nova Diocese de Sorocaba, com a leitura da respectiva bula papal. Sendo final de ano, foi cantado o solene “Te Deum”, presidido por monsenhor Domingos Magaldi, governador do Bispado de Botucatu e vigário da Paróquia local de Nossa Senhora da Ponte.

A posse de Dom José Carlos de Aguirre como primeiro bispo diocesano aconteceu na manhã seguinte, ‘dia de Ano Bom’, 1º de janeiro de 1925, coincidindo com a chegada da secular romaria vinda do bairro de Aparecidinha, trazendo a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Às 10 horas, Dom José Carlos de Aguirre saiu da Residência Episcopal, sob o pálio e revestido de alva e mitra e empunhando o báculo, entrando na Catedral ao canto de “Ecce Sacerdos”. Orou na Capela do Santíssimo, sentou-se ao trono episcopal e ouviu monsenhor Dr. João Batista Martins Ladeira, insígne sacerdote do clero paulistano, ler as bulas de nomeação do bispo diocesano e de sua apresentação ao povo, lavrando-se o respectivo termo de posse, que assinalou também a missa cantada em seguida, com assistência pontifical, o sermão alusivo feito pelo padre Gasparino Dantas e os cumprimentos do clero local a seu novo Bispo.

Além da sede, a Paróquia de Nossa Senhora da Ponte, constituíam o território eclesiástico da nova Diocese, totalizando uma população de 355.181 habitantes, outras 29 cidades-paróquias, a saber: Alambari, Angatuba, Bofete, Boituva, Bom Sucesso, Buri, Campo Largo (Araçoiaba da Serra hoje), Capão Bonito, Cesário Lange, Cerquilho, Conchas, Guareí, Itapeva, Itaberá, Itapetininga, Itaporanga, Itararé, Laranjal Paulista, Pereiras, Piedade, Pilar do Sul, Porangaba, Ribeirão Branco, Ribeirão Vermelho, São Miguel Arcanjo, Sarapuí, Tatuí e Tietê.

Colaboração: José Benedito de Almeida Gomes/Edição de Juliana Cuani. Originalmente publicado no Especial “Arquidiocese de Sorocaba 90 anos” – Jornal Terceiro Milênio/ 2014.

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