Comentário ao Evangelho – Quinta-feira Santa – 28 03 2024

Quinta-feira Santa

Jo 13,1-15

O momento de maior seriedade de nossa existência é o momento da morte. Quem já teve a oportunidade (ou a graça) de acompanhar uma pessoa prestes a morrer sabe que diante da morte todos nós assumimos uma atitude de extrema seriedade. Todas as palavras, as promessas, as recomendações, os conselhos, os pedidos e os gestos se revestem da mais absoluta gravidade. Com a morte ninguém brinca: trata-se do momento em que toda nossa caminhada neste mundo se concentra; momento em que todos os gestos e palavras deixam de ser provisórios e reformáveis, tudo se torna definitivo. A iminência da morte torna nossas atitudes urgentes: se temos algo a dizer ou fazer devemos fazer logo, não nos resta muito tempo.

Hoje somos chamados a prestar atenção às últimas palavras de Jesus, a ouvir suas últimas confidências, a contemplar seus últimos gestos carregados da mais evidente seriedade. Jesus está prestes a entregar sua vida em sacrifício na cruz, mas, antes de partir deste mundo para o Pai, ele reúne os apóstolos e lhes transmite o seu testamento, cumpre com eles e diante deles o gesto mais estupendo de sua vida: lava-lhes os pés, parte o pão, passa o cálice revelando que eles são seu corpo dado e seu sangue derramado. Até mesmo uma pessoa que não tem fé reconheceria a gravidade desta hora e a importância destes últimos momentos.

Qual é o sentido desta última ceia? No evangelho de João encontramos uma pista. “Depois de ter amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Hoje Jesus atinge o extremo do amor, chegou até o fim (fim-finalidade) de uma vida inteiramente dedicada a amar. Por amor ele se fez servo, assumindo nossa condição humana na encarnação. Por amor ele pregou o evangelho aos pobres dizendo serem eles os prediletos de Deus. Por amor ele percorreu as estradas da Judéia, não teve lugar onde repousar a cabeça, foi perseguido. Por amor ele curou inúmeros doentes, até o ponto de não ter tempo sequer para comer. Por amor aos pecadores ele os perdoou, sentou-se à mesa com eles, entrou em suas casas. Jesus não viveu para si, viveu para os outros; não quis ser servido, foi o servidor de todos. Toda essa existência de serviço e de amor chega ao seu ápice na última ceia. Por isso ele lava os pés dos discípulos.

O lava-pés não foi um gesto vazio e isolado. Durante toda vida Jesus lavou os pés. Mas é na última ceia que ele se realiza de modo definitivo. Por isso Jesus pode ser chamado de Servo de Javé. Somente a ele cabe este nome: aquilo que ele fez durante a vida, ele o fez até o fim: amou até o fim.

Toda a vida de Jesus pode se definir como doação de si aos outros. Jesus não teve nada para si: nem sua sabedoria, nem sua força, nem seu tempo, tampouco sua vida. Sua vida foi consumida, foi gasta, foi dada aos outros. Ora, é na última ceia e na cruz que esta doação chega até o fim: consumiu a vida se doando aos outros até não sobrar mais nada, até chegar ao ponto do esvaziamento total, até derramar todo o seu sangue. Nada sobra, tudo é doado aos outros. Para realizar e significar esta doação até o extremo, Jesus parte o pão e passa o cálice: são seu corpo dado e seu sangue derramado, sua vida dada até o fim para nós. O que Jesus nos comunica no pão e no cálice é sua própria vida: a eucaristia é o meio mais genial do amor extremado de Jesus pelos seus que estão no mundo.

E ele não se contentou em se doar em parte ou durante certo tempo. Ele não coloca limites na doação. Ele quis se doar inteiramente, e, para tornar definitiva esta doação, instituiu este sacramento como memorial perpétuo de seu sacrifício na cruz. Assim a doação total de Jesus não se dá somente num momento limitado de nossa história, mas se universaliza e se eterniza com a instituição deste sacramento. Na Eucaristia, Jesus continua se doando todo inteiro em todos os lugares e em todos os tempos.

Peçamos hoje a graça de estar atentos ao amor que o Senhor nos oferece, de compreender que devemos voltar nossa atenção a Ele e não a nós mesmos. Aceitando o amor seremos purificados, santificados.

Por Dom Julio Endi Akamine SAC

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