Papa Francisco e um gesto pedindo reconciliação e paz

O Papa Francisco espera poder visitar o Sudão do Sul num futuro próximo. Ele mesmo confirmou isso, no discurso de conclusão de dois dias de retiro espiritual, realizados em abril, para a paz que levaram ao Vaticano autoridades civis e eclesiásticas do Sudão do Sul.

Confirmo o meu desejo e a minha esperança de poder ir ao vosso amado país num futuro próximo, com a graça de Deus, junto com os meus queridos irmãos aqui presentes: entre  eles, o arcebispo de Cantuária, Welby.

O Papa Francisco exortou os líderes políticos do Sudão do Sul a cumprirem o compromisso de paz que assinaram no ano passado, rezando com eles hoje após dois dias de um retiro espiritual sem precedentes no Vaticano. E acrescentou improvisando:

A vocês três que assinaram o Acordo de Paz, peço-lhes, como irmão, que permaneçam na paz. Peco-lhes com o coração. Vamos seguir em frente. Haverá muitos problemas, mas não tenham medo, vão em frente, resolvam os problemas. Vocês iniciaram um processo: que termine bem. Haverá lutas entre vocês dois, sim. Que elas ocorram dentro do escritório; diante do povo, as mãos unidas. Assim, de simples cidadãos, vocês se tornarão Pais da Nação. Permitam-me pedir isso com o coração, com os meus sentimentos mais profundos”, disse o Papa.

No final de seu discurso de encerramento do retiro espiritual o Papa Francisco inclinou-se para beijar os pés dos líderes do país reunidos para a iniciativa de paz. O Papa beijou os pés ao presidente da República Salva Kiir Mayardit e aos vice-presidentes-designados presentes, entre os quais Riek Machar e Rebecca Nyandeng De Mabior.

Os participantes receberam uma Bíblia assinada por Francisco, pelo arcebispo de Cantuária e pelo reverendo John Chalmers da Igreja Presbiteriana da Escócia, com a mensagem “Buscai o que une, superai o que divide”, e o Papa deu-lhes a sua bênção.

O Sudão do Sul, com uma população maioritariamente cristã, obteve a sua independência ao separar-se do Norte árabe e muçulmano em 2011, mas no final de 2013 mergulhou num conflito civil causado pela rivalidade entre o presidente, Salva Kiir, e o seu então vice-presidente, Riek Machar.

Um gesto pela reconciliação e pela paz

O padre José Vieira diz que o gesto do Papa Francisco ao beijar os pés dos líderes políticos poderá ajudar a “colocar Deus” no caminho para a reconciliação e paz.

“Eles têm nas mãos o sangue de 400 mil pessoas e o Papa ter aquele gesto mostra que eles podem ter divergências mas que as devem sanar no gabinete. As divergências são normais, mas o Papa pediu para, como irmãos, do fundo do coração, darem as mãos para serem pais da nação”, conta à Agência ECCLESIA o padre José Vieira, provincial dos missionários combonianos que residiu em Juba, no Sudão do Sul durante sete anos.

Na cultura dinka, uma das etnias do Sudão do Sul, “não há palavras para dizer obrigado» ou «desculpa» e um líder ajoelhar-se e beijar os pés de uma pessoa, vale por mil palavras”, traduz o missionário comboniano que acompanhou de perto o sofrimento de povo entre 2006 e 2013, um povo sofredor habituado a “viver em guerra e a esperar a guerra”.

O gesto de Francisco, para o provincial dos combonianos, introduz um novo elemento: “o da oração”. “Se puserem o elemento Deus na reconciliação, talvez consigam, porque entre as pessoas que seguem a religião cristã, os muçulmanos ou anglicanos, Deus está lá. Há um ecumenismo prático nos crentes no Sudão do sul: rezamos ao um Deus com um nome diferente e com diversas linguagens corporais, mas estamos como irmãos”, afirma o padre José Vieira.

Com informações de Vatican News e Agência Ecclesia.

 

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